Eu caio em todos os musicais, facinho mesmo. Todo musical tem aquele clima de magia, né? É tanto brilho, tanto glamour... aí eu acabei convencendo o namorado a ir comigo assistir Nine (2009).
Off topic: qual a mística do número 9 que apareceu em tantos filmes em 2000 e... 9? Teve 9 – A salvação (que no original é só 9), teve Distrito 9 e agora Nine (por extenso, pra não confundir as cabecinhas cinéfilas).
Ele não gostou muito, achou meio devagar e longo demais. Já eu saí querendo ser a Marion Cotillard, porque ela é linda, canta bem e é a melhor atriz de todos os tempos da última semana.
O filme, metalingüístico que só ele, conta a história de Guido Contini (Daniel Day-Lewis), um cineasta mulherengo com bloqueio criativo que engana um mundo de pessoas, inclusive a própria equipe técnica e o elenco do filme que ele supostamente está produzindo quando, na verdade, ele não tem uma linha sequer de roteiro escrita. Pra entender as escolhas e o modo de vida de Guido, o filme vai apresentando aos pouquinhos as mulheres diretamente ligadas a ele. Essa apresentação das mulheres foi o que mais me encantou e ao mesmo tempo o que mais me irritou.
O que eu gostei é que, como em Chicago (2002), os números musicais se passam na imaginação dos personagens (exceto pelo da Nicole Kidman, que acontece no meio do diálogo); na verdade, parece que se passam quase todos na imaginação Guido, e é bem interessante fazer o paralelo das personagens “reais” com a imagem que Guido tem delas. Os melhores exemplos são os da Penélope Cruz e da Fergie. Carla (Penélope Cruz), a amante de Guido,é broquinha que dói, parece uma porta e quanto à beleza é assim, como dizer, “bonitinha, mas ordinária”, mas no número musical se transforma: cabelón poderoso, cinta-liga, super zéquice... ela é a amante, afinal de contas, é assim que ele a vê.
A personagem da Fergie eu não entendi muito bem, sei que ela tem um nome engraçado (Saraghina) mora num barraco na beira da praia e faz umas danças esquisitas pros moleques de um colégio de padre a troco de umas moedas. Pra eles, ela certamente era o exemplo-mor de mulher bonita e é assim que nós a vemos quando ela se apresenta. Not! Cristiana Oliveira ligou e pediu o figurino de Pantanal de volta.
Alguns números parecem ter ficado um pouco deslocados, como o da Kate Hudson, por exemplo. Ok, deu pra entender que ela é uma Maria-Hollywood, mas o que acontece depois disso? Nada, o personagem não desenvolve. E não é só ela. Tanto a Carla como as personagens da Nicole Kidman e da Sophia Loren, simplesmente somem depois das apresentações. Só Judi Dench permanece o filme todo (não à toa ela é a rainha Elizabeth).
Piadinhas à parte, no geral o filme é bom e realmente se salva com os dois números da Marion, que faz a esposa traída de Guido. A primeira sequência dá vontade de chorar de tão bonita e triste e a segunda, muito mais forte, revela uma atriz bem versátil, que passa de esposa resignada à mulher dona de seu próprio nariz de uma hora pra outra. Vale também pelo número da Fergie que, apesar do visual Juma, tem aquele vozeirão e canta a música mais poderosa do filme.