domingo, 27 de setembro de 2009

Memória para viagem

- Bom dia, em que posso ajudar?

- Bom dia. Me vê um punhado de memórias, por favor.

- De que tipo, senhora?

- Hum... comece com memórias de infância. Tem das que lembram risadas, brincadeiras e uma certa sensação de que depois daquilo ainda viria muito mais?

- Tem sim, senhora, é a mais pedida.

- Então coloca bem muito dessa. Coloca também uma que me lembre de pessoas que eu não vou ver nunca mais. E um pouco da minha imaginação infantil.

- Feito. Mais alguma?

- Sim, sim, muito mais. Eu vou querer memórias de histórias que eu não vivi, de personagens que eu nunca fui, mas cujas vidas e idéias eu peguei emprestadas por alguns dias, horas... alguns estão comigo até hoje. Tornaram-se um pouquinho de mim, foram meus companheiros e únicas companhias algumas vezes. Em outras senti que só eles poderiam me entender. Mas não eram reais, você sabe... Tem dessas?

- Para todos os gostos.

- Gosto assim, bem variado. Coloca uns de pessoas reais também, pra eu fingir que as conheci.

- Ok.

- Olha, eu também vou querer lembranças de família. Um objeto que marque a primeira grande mudança da minha vida, literalmente, mas que não fique na cara o que ele representa. Que as pessoas olhem pra ele com doçura, e não saibam o leve desespero que eu sinto quando me coloco de novo naquele comecinho de milênio. E quero memórias do único filho que já tive até hoje.

- Vai querer da grande ou da pequena?

- Da pequena. As memórias são minhas e algumas pessoas nunca entendem que cachorros podem ser mais humanos que... bem, humanos. E que fazem falta quando vão para o céu dos cachorros. É, da pequena mesmo, só pra mim. Coloca bem no alto, pra só eu alcançar.

- Ainda tem bastante espaço, o que mais eu coloco?

- Amigos, claro! Dos que eu não vejo mais e perdi o contato, vou querer memórias de super-poderes que ajudavam a enfrentar aquela confusão da adolescência. Dos que estão longe, quero memórias da atenção em lembrar - e me presentear com - o meu filme favorito. Dos que estão perto, quero a surpresa de ser presenteada com lembranças de um mundo distante que eu não conheço, vindas de alguém que eu não conhecia. Dos que passaram bem rápido, quero a lembrança dos que me viam como uma criança, mas me diziam ter letra de adulta, seja lá o que isso signifique.

- Tá ficando uma mistura boa.

- Ainda falta muito... tem espaço?

- Ai de mim, se não tivesse.

- Então coloca bichinhos, vários bichinhos. E um Francisco abençoando tudo isso. Ah, coloca as flores que eu ganhei também! Quero muito a memória daquele dia. E daquela pessoa. Por favor, completa com memórias de um futuro que não aconteceu ainda? Um pedacinho do quebra-cabeça que eu vou montar junto com ela? Eu também quero memórias de um mundo que eu quero ajudar a projetar, memórias inspiradoras, memórias que eu escolhi. Aproveita e coloca memórias dos meus dois lados e uma memória das coisas boas que me ensinaram. Lápis pra desenhar o mundo e caixinhas pra guardar conversas antigas. Ainda tem espaço pra humor?

- Tem um cantinho aqui em cima.

- Coloca então um cabeção!

- Olha, você esqueceu de colocar fotos...

- Esqueci não, fotos tem sorrisos congelados, uma hora começam a parecer a Monalisa, sem você saber se é sorriso de felicidade ou de sarcasmo. Foto boa é foto guardada, pra você procurar quando quiser. Expostas, assim, boas são coisinhas pequenas, que só a gente sabe o que significa.

- Vi que você pegou uma bíblia. Vai querer também?

- Vou sim, tem histórias lindas nela... realmente inspiradoras.

- Pronto, já acrescentei. Mais alguma coisa?

- Por enquanto, não, já tem o bastante pra eu me lembrar de muitas coisas... mas posso voltar aqui se faltar alguma coisa ou se quiser coisas novas?

- Claro! Aqui ou em qualquer uma das nossas filiais. Temos representantes espalhados por todo o mundo, em vários lugares. Em quase todos. Em quase tudo, pra ser sincero.

- Que bom... to sentindo que vou voltar mais vezes.

- Fico feliz. Acredita que tem gente que nunca volta? Tem gente até que nunca veio!

- Espero não me tornar uma pessoa assim...

- Sim, sim. Outra coisa... é pra agora ou é pra levar?

- É pra levar. Pra sempre.

Pode embrulhar pra presente.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Post Constatação

(se você ainda não viu o filme, melhor não ler... vá ver!!!)

Ontem eu assisti UP - Altas Aventuras (desnecessário esse "altas aventuras" no título né?) e eu gostaria de dizer que um cachorro inteligente daquele e com uma coleira falante eu até encarava. Agora, naquele dirigível LOTADO de cachorros igualmente sabidos e tagarelas, mas que nem por isso deixam de ser cachorros que correm, lambem (eca) e pulam nas pessoas eu não entrava nem a PAU!

mesmo tão civilizado ainda é um cachorro

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Teu passado te condena

Mexendo nuns guardados de muitos anos atrás, achei este livretozinho, lançado em 1992 pela escola onde eu estudava.



O livro, com capa mimeografada, textos e fotos (dos alunos fotografados contra o sol) xerocados e introdução escrita à máquina, além de ser um exemplar único da tecnologia ultramoderna da época, é também uma coletânea de histórias e desenhos realizados pelos alunos da 1ª série A, alfabetizados no ano anterior.


Eu só lembro que adoeci e faltei no dia oficial de escrever as histórias, e tive que escrever de última hora em outro dia normal de aula, quando recebi as parcas instruções: “nesse lado tu escreve, nesse outro tu desenha”. Se tivessem me dito que era um “registro para a posteridade”, talvez eu tivesse caprichado mais, mas enfim, segue a obra prima literária (tudo sic):

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Os animais e a prima-vera [sim: prima, hífen, vera]

Com a chegada da prima-vera [de novo] toda natureza entra em festa.
A prima-vera
[opa] é muito boa, quando ela chega os jardins ficam floridos, as matas ficam verdinhas [adoro o diminutivo, que doçura], as flores ficam mas [sem i] colorida [sem s] e por isso a variedade de borboletas aumenta [sabe deus de onde eu tirei esse fato científico]. É borboleta tudo que é cor, cada uma mas [o Word insiste em me corrigir] bonita do que a outra e elas ficam pulando de flor em flor e por isso faz que a natureza fique mas [hum]
bonita.

Autora: [content supressed]
idade: 7 anos
série: 1º”

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E essa sou eu, recém-alfabetizada. Já dava pra sentir que tinha futuro, hein?


As borboletas pulam de flor em flor.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Marley & Eu

Então... como faz muito tempo que eu escrevi aqui e eu não tenho assim... nada pra falar, eu só vim dizer que hoje eu assisti Marley & Eu. Sim, o filme do cachorro. E gostei!!

Confesso que o assisti com todo preconceito do mundo, primeiro porque filme de bicho, vamos ser sinceros, é sempre tipo um-caozinho-metido-nas-mais-loucas-encrencas-hoje-na-sessão-da-tarde, segundo porque eu não gosto de cachorro - e guarde bem essa informação, ela pode ser bem recorrente por aqui.

Daí que só assisti porque ele tava aqui de bobeira (e já pago =)). Mas é bom pra relaxar, aquele filme bobinho que não precisa usar muito o Tico e Teco, mas tem umas sacadas interessantes sobre a vida e coisa e tal.

E indo de encontro aos comentários que ouvi sobre ele: não, eu não chorei. E continuo não querendo um cachorro, obrigada.

pra quê cachorro?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Despeito

Eu gostaria de pedir às pessoas que eu conheço que, por favor, parem de escrever coisas engraçadas em seus respectivos twitter e as escrevam nos blogs, porque se não como eu vou ler?

Grata.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Só dá esperto nesse mundo

Então, né. Passagem de ônibus: R$ 1,95.


Agora sigam a bolinha:


R$ 1.95 a passagem inteira. Dividido por dois, temos R$ 0,975.


Confere até aqui? Continuemos:


Quando você leva seu cartão magnético de passe e compra, por exemplo, 20 passagens, você paga R$19,50 , certo? Certo até certo ponto, porque na hora de passr o cartão na maquininha do ônibus, que só trabalha com dois dígitos depois da vírgula, ela vai descontar R$ 0,98, significando que você só conseguirá pagar dezenove passagens, em vez das vinte que você comprou. Pegou a idéia? Agora multiplique isso pelas 352 milhões de pessoas que pagam meia passagem no ônibus.

Essa foi a primeira história, das empresas de ônibus que sutilmente assaltam seus usuários.

A segunda história é sobre o cobrador de uma dessas empresas. Mais especificamente, o cobrador do ônubus que eu pego todos os dias.

Antes, um detalhe importante para a narrativa: de uns tempos pra cá inventaram que a minha carteira de passe tem que ser renovada a cada seis meses, mas é aquela coisa: tem que pagar, tem que enfrentar filas de 2687 metros... eu acabo adiando e por isso tendo que pagar a passagem inteira. Percebem a contradição? Eu reclamo do preço da passagem mas adio exercer meu direito de pagar meia. Mas tanto faz, eu continuo sendo roubada do mesmo jeito, vejam:

Quantas pessoas vocês conhecem que andam com um-re-al-e-no-ven-ta-e-cin-co-cen-ta-vos, assim, trocadinho? Só eu, né, que cansada de trocar os meus dinheiros, ataquei o cofrinho e passei uns dias pagando quase dois reais em moedas de cinco centavos. Um pouco constrangedor, mas quem trabalha com troco geralmente gosta - e até me agradece -, menos é claro o cobrador em questão. Porque me digam: quantas pessoas vocês conhecem que dão dois reais ou cinco ou dez e cobram os cinco centavos que ficaram faltando no troco? Só eu, né, que não tenho cofrinho cheio de moedas de cinco centavos à toa.

Aí que eu percebi que esse cobrador sempre - eu disse SEMPRE - dava o troco de quem pagava a passagem inteira, faltando os cinco centavos. E nem satisfação ele dava, do tipo "tô sem troco, aceita um chiclete?". Nada. Como ninguém cobrava - nem eu -, ele seguia feliz, até que um dia, intrigada com o fato dele NUNCA ter o troco, resolvi perguntar: e os cinco centavos? Vocês não fazem i-d-e-i-a da cara que ele fez! Foi a maior cara de "quem você pensa que é pra acabar com a minha aposentadoria?", porque sim, siiiiim, ele tinha os cincos centavos!!! Agora multiplique isso pelas 856 milhões de pessoas que não pagam a passagem inteira trocada?

E é assim que eu começo os meus dias, todos os dias: perguntando a ele dos meus cinco centavos, que ele nunca entrega de primeira. E adivinha? Ele sempre tem!