- Bom dia, em que posso ajudar?
- Bom dia. Me vê um punhado de memórias, por favor.
- De que tipo, senhora?
- Hum... comece com memórias de infância. Tem das que lembram risadas, brincadeiras e uma certa sensação de que depois daquilo ainda viria muito mais?
- Tem sim, senhora, é a mais pedida.
- Então coloca bem muito dessa. Coloca também uma que me lembre de pessoas que eu não vou ver nunca mais. E um pouco da minha imaginação infantil.
- Feito. Mais alguma?
- Sim, sim, muito mais. Eu vou querer memórias de histórias que eu não vivi, de personagens que eu nunca fui, mas cujas vidas e idéias eu peguei emprestadas por alguns dias, horas... alguns estão comigo até hoje. Tornaram-se um pouquinho de mim, foram meus companheiros e únicas companhias algumas vezes. Em outras senti que só eles poderiam me entender. Mas não eram reais, você sabe... Tem dessas?
- Para todos os gostos.
- Gosto assim, bem variado. Coloca uns de pessoas reais também, pra eu fingir que as conheci.
- Ok.
- Olha, eu também vou querer lembranças de família. Um objeto que marque a primeira grande mudança da minha vida, literalmente, mas que não fique na cara o que ele representa. Que as pessoas olhem pra ele com doçura, e não saibam o leve desespero que eu sinto quando me coloco de novo naquele comecinho de milênio. E quero memórias do único filho que já tive até hoje.
- Vai querer da grande ou da pequena?
- Da pequena. As memórias são minhas e algumas pessoas nunca entendem que cachorros podem ser mais humanos que... bem, humanos. E que fazem falta quando vão para o céu dos cachorros. É, da pequena mesmo, só pra mim. Coloca bem no alto, pra só eu alcançar.
- Ainda tem bastante espaço, o que mais eu coloco?
- Amigos, claro! Dos que eu não vejo mais e perdi o contato, vou querer memórias de super-poderes que ajudavam a enfrentar aquela confusão da adolescência. Dos que estão longe, quero memórias da atenção em lembrar - e me presentear com - o meu filme favorito. Dos que estão perto, quero a surpresa de ser presenteada com lembranças de um mundo distante que eu não conheço, vindas de alguém que eu não conhecia. Dos que passaram bem rápido, quero a lembrança dos que me viam como uma criança, mas me diziam ter letra de adulta, seja lá o que isso signifique.
- Tá ficando uma mistura boa.
- Ainda falta muito... tem espaço?
- Ai de mim, se não tivesse.
- Então coloca bichinhos, vários bichinhos. E um Francisco abençoando tudo isso. Ah, coloca as flores que eu ganhei também! Quero muito a memória daquele dia. E daquela pessoa. Por favor, completa com memórias de um futuro que não aconteceu ainda? Um pedacinho do quebra-cabeça que eu vou montar junto com ela? Eu também quero memórias de um mundo que eu quero ajudar a projetar, memórias inspiradoras, memórias que eu escolhi. Aproveita e coloca memórias dos meus dois lados e uma memória das coisas boas que me ensinaram. Lápis pra desenhar o mundo e caixinhas pra guardar conversas antigas. Ainda tem espaço pra humor?
- Tem um cantinho aqui em cima.
- Coloca então um cabeção!
- Olha, você esqueceu de colocar fotos...
- Esqueci não, fotos tem sorrisos congelados, uma hora começam a parecer a Monalisa, sem você saber se é sorriso de felicidade ou de sarcasmo. Foto boa é foto guardada, pra você procurar quando quiser. Expostas, assim, boas são coisinhas pequenas, que só a gente sabe o que significa.
- Vi que você pegou uma bíblia. Vai querer também?
- Vou sim, tem histórias lindas nela... realmente inspiradoras.
- Pronto, já acrescentei. Mais alguma coisa?
- Por enquanto, não, já tem o bastante pra eu me lembrar de muitas coisas... mas posso voltar aqui se faltar alguma coisa ou se quiser coisas novas?
- Claro! Aqui ou em qualquer uma das nossas filiais. Temos representantes espalhados por todo o mundo, em vários lugares. Em quase todos. Em quase tudo, pra ser sincero.
- Que bom... to sentindo que vou voltar mais vezes.
- Fico feliz. Acredita que tem gente que nunca volta? Tem gente até que nunca veio!
- Espero não me tornar uma pessoa assim...
- Sim, sim. Outra coisa... é pra agora ou é pra levar?
- É pra levar. Pra sempre.
Pode embrulhar pra presente.
- Bom dia. Me vê um punhado de memórias, por favor.
- De que tipo, senhora?
- Hum... comece com memórias de infância. Tem das que lembram risadas, brincadeiras e uma certa sensação de que depois daquilo ainda viria muito mais?
- Tem sim, senhora, é a mais pedida.
- Então coloca bem muito dessa. Coloca também uma que me lembre de pessoas que eu não vou ver nunca mais. E um pouco da minha imaginação infantil.
- Feito. Mais alguma?
- Sim, sim, muito mais. Eu vou querer memórias de histórias que eu não vivi, de personagens que eu nunca fui, mas cujas vidas e idéias eu peguei emprestadas por alguns dias, horas... alguns estão comigo até hoje. Tornaram-se um pouquinho de mim, foram meus companheiros e únicas companhias algumas vezes. Em outras senti que só eles poderiam me entender. Mas não eram reais, você sabe... Tem dessas?
- Para todos os gostos.
- Gosto assim, bem variado. Coloca uns de pessoas reais também, pra eu fingir que as conheci.
- Ok.
- Olha, eu também vou querer lembranças de família. Um objeto que marque a primeira grande mudança da minha vida, literalmente, mas que não fique na cara o que ele representa. Que as pessoas olhem pra ele com doçura, e não saibam o leve desespero que eu sinto quando me coloco de novo naquele comecinho de milênio. E quero memórias do único filho que já tive até hoje.
- Vai querer da grande ou da pequena?
- Da pequena. As memórias são minhas e algumas pessoas nunca entendem que cachorros podem ser mais humanos que... bem, humanos. E que fazem falta quando vão para o céu dos cachorros. É, da pequena mesmo, só pra mim. Coloca bem no alto, pra só eu alcançar.
- Ainda tem bastante espaço, o que mais eu coloco?
- Amigos, claro! Dos que eu não vejo mais e perdi o contato, vou querer memórias de super-poderes que ajudavam a enfrentar aquela confusão da adolescência. Dos que estão longe, quero memórias da atenção em lembrar - e me presentear com - o meu filme favorito. Dos que estão perto, quero a surpresa de ser presenteada com lembranças de um mundo distante que eu não conheço, vindas de alguém que eu não conhecia. Dos que passaram bem rápido, quero a lembrança dos que me viam como uma criança, mas me diziam ter letra de adulta, seja lá o que isso signifique.
- Tá ficando uma mistura boa.
- Ainda falta muito... tem espaço?
- Ai de mim, se não tivesse.
- Então coloca bichinhos, vários bichinhos. E um Francisco abençoando tudo isso. Ah, coloca as flores que eu ganhei também! Quero muito a memória daquele dia. E daquela pessoa. Por favor, completa com memórias de um futuro que não aconteceu ainda? Um pedacinho do quebra-cabeça que eu vou montar junto com ela? Eu também quero memórias de um mundo que eu quero ajudar a projetar, memórias inspiradoras, memórias que eu escolhi. Aproveita e coloca memórias dos meus dois lados e uma memória das coisas boas que me ensinaram. Lápis pra desenhar o mundo e caixinhas pra guardar conversas antigas. Ainda tem espaço pra humor?
- Tem um cantinho aqui em cima.
- Coloca então um cabeção!
- Olha, você esqueceu de colocar fotos...
- Esqueci não, fotos tem sorrisos congelados, uma hora começam a parecer a Monalisa, sem você saber se é sorriso de felicidade ou de sarcasmo. Foto boa é foto guardada, pra você procurar quando quiser. Expostas, assim, boas são coisinhas pequenas, que só a gente sabe o que significa.
- Vi que você pegou uma bíblia. Vai querer também?
- Vou sim, tem histórias lindas nela... realmente inspiradoras.
- Pronto, já acrescentei. Mais alguma coisa?
- Por enquanto, não, já tem o bastante pra eu me lembrar de muitas coisas... mas posso voltar aqui se faltar alguma coisa ou se quiser coisas novas?
- Claro! Aqui ou em qualquer uma das nossas filiais. Temos representantes espalhados por todo o mundo, em vários lugares. Em quase todos. Em quase tudo, pra ser sincero.
- Que bom... to sentindo que vou voltar mais vezes.
- Fico feliz. Acredita que tem gente que nunca volta? Tem gente até que nunca veio!
- Espero não me tornar uma pessoa assim...
- Sim, sim. Outra coisa... é pra agora ou é pra levar?
- É pra levar. Pra sempre.